TEXTO PARA PROVA DO 2º ANO.
O Trabalho nas Diferentes
Sociedades
Nelson Dacio Tomazi
O
TRABALHO NAS SOCIEDADES TRIBAIS
A
ideia de trabalho, como uma coisa separada das outras
atividades, é algo que não existe nessas sociedades,
isto porque as atividades vinculadas à produção
nas sociedades tribais estão associadas aos ritos e mitos, ao
sistema de parentesco, às festas, às artes, enfim a
toda a vida social, econômica, política e religiosa. O
trabalho separado das outras coisas não tem sentido, não
tem valor em si.
As
sociedades tribais com as mais diferentes estruturas sociais,
políticas e econômicas possuíam uma organização
do trabalho em geral baseado na divisão por sexo,em que os
homens e mulheres executavam atividades diferentes. Os seus
equipamentos e instrumentos são muitos simples e
rudimentares, ainda que muito eficazes, classificando-os como
sociedades de economia de subsistência e de técnica
rudimentar. Essas sociedades não só tinham todas as
suas necessidades matérias
e sociais plenamente satisfeitas, como também dispunham de
mínimo de horas diárias vinculadas à atividade
de produção, sendo classificadas como "sociedades
do lazer", ou as primeiras "sociedades de abundância".
O fato de se dedicar menos tempo às tarefas vinculadas à
produção não significa que se tenha uma vida de
privações. Ao contrario, essas sociedades viviam muito
bem alimentadas. É importante ressaltar que isso foi antes do
contato com o "mundo civilizado".
A
explicação para o fato de trabalharem muito menos que
nós, está no modo como se relacionam com a natureza.
Não são os homens que produzem ou caçam, pois
eles simplesmente recebem aquilo que precisam da mãe
"natureza". Por outro lado, há um profundo
conhecimento do meio que vivem o que faz com que conheçam as
plantas, os animais, a forma como crescem, reproduzem. Não se
tem a ideia de que se deve produzir mais para poupar ou
acumular riquezas. A sua riqueza está na vida e na forma como
passam os dias.
O
aspecto mais importante das comunidades tribais é o sentido
de unidade existente no cotidiano dessas sociedades.
O
TRABALHO NA SOCIEDADE GRECO-ROMANA
Os
gregos faziam uma distinção clara entre o trabalho
braçal, o trabalho manual, e atividades do cidadão que
se discute e resolve os problemas da sociedade.Os gregos possuíam
três concepções para a
ideia de trabalho: labor, poiesis e práxis. Para
labor
entendia-se o esforço físico voltado para a
sobrevivência do corpo, sendo, portanto, uma atividade passiva
e submissa ao ritmo da natureza. Em poiesis a ênfase recai
sobre o ato de fabricar, de criar alguma coisa ou produto através
do uso de algum instrumento ou mesmo das próprias mãos. Praxis
é aquela
atividade que tem a palavra como seu principal instrumento, isto é,
que utiliza o discurso como um meio para encontrar soluções
voltadas para o bem-estar dos cidadãos. É necessário
que se entenda a questão da escravidão no interior
dessas sociedades. A sociedade greco-romano não era
constituída somente de escravos e senhores, apenas a quarta
parte da mão-de-obra era escrava, pois havia uma serie de
outros trabalhadores. Mesmo assim a escravidão caracteriza
essas sociedades, uma vez que todos os trabalhadores viviam, de uma
forma ou de outra, oprimidos pelos senhores e proprietários.
Nessas
sociedades, o escravo era propriedade de seu senhor e,
portanto, podia
ser vendido, doado, trocado, alugado,não só ele, mas
todos da família e todos os bens que porventura tivesse.
Para
a maioria dos escravos, a finalidade precípua de suas vidas
era tornarem-se livres, mesmo que isso não lhes desse a
condição de cidadão, já que só o
seriam se tivessem bens e propriedades. Havia uma classe de ricos e
notáveis senhores que viviam de renda e eram desobrigados de
qualquer atividade que não fosse à arte de discutir os
assuntos da cidade e o bem-estar dos cidadãos. Por isso a
escravidão era tão fundamental nessas sociedades, pois
era o trabalho escravo que dava o suporte material para que os
cidadãos não precisassem viver do suor de seu rosto.
O
TRABALHO NA SOCIEDADE FEUDAL
O
fim do Império Romano do Ocidente fez com que todo aquele
imenso território, antes mantido unido por Roma e seus
exércitos, se fragmentassem a tal ponto que surgissem muitas
formas de organização social e política,
dependendo das condições
de cada região naquele momento. Mas, apesar desse
fracionamento e de toda a diversidade de estruturação
do sistema feudal, podem-se definir algumas características
predominantes nesse sistema: a terra é o principal meio de
produção, e as principais relações
sociais desenvolvem-se em torno dela, uma vez que se tem uma economia
fundamentalmente agrícola. Mas a terra não pertence
aos produtores diretos,pertencem aos senhores feudais, devidamente
hierarquizados. Os trabalhadores têm direito ao usufruto e à
ocupação das terras, mas nunca à propriedade
delas. Os senhores através de laços feudais, tem
direito de arrecadar tributos sobre os produtos ou sobre a própria
terra. Uma rede de vínculos pessoais de direitos e deveres e
de honra entre os senhores, e entre estes e os servos, em que uns
trabalham em regime de servidão, no qual não se goza de
plena liberdade, mas, também, não se é escravo.
O que há é um sistema de deveres para com o senhor e
deste para com os seus servos. A sociedade feudal é uma
organização social que se estrutura em estamentos, e
estes tem uma relação entre si muito diversa e
complexa.
Os
servos além de trabalharem em suas terras, eram também
obrigados a trabalhar nas terras do senhor, bem como na construção
e manutenção de estradas e pontes. Essas obrigações
se chamavam corveia. Havia uma serie de outras obrigações
que os servos tinham para com os senhores, como um imposto que se
pagava por pessoa e atingia unicamente os servos. O censo era outro
imposto, mas esse era pago somente pelos homens livres. A tacha era
uma taxa que se pagava sobre tudo o que se produzia na terra e
atingia todas as categorias dependentes. As banalidades consistiam em
outra obrigação devida ao senhor, e eram pagas pelos
servos e camponeses pelo uso do moinho, do forno, dos tonéis
de cerveja e pelo fato de, simplesmente, residirem na aldeia. Os
senhores feudais e o clero viviam do trabalho dos outros. Algo
parecido com a sociedade greco-romana, ainda que em outras condições
históricas.
As
associações dos trabalhadores de diferentes ofícios
são traços
marcantes da sociedade feudal.
Havia uma regulamentação
que estabelecia o conceito de oficio, criava os mecanismos de
controle da profissão e ainda determinava um grupo de
conselheiros encarregados de fazer observar os estatutos da
associação. Essas associações se
tornaram conhecidas como corporações de ofícios.
No topo da escala da corporação encontrava-se o mestre,
que controlava o trabalho de todos os que faziam parte de uma
determinada corporação, encarregando-se de pagar os
direitos ao rei ou ao senhor feudal e de fazer respeitar todos os
compromissos com a corporação. Abaixo dele vinha o
oficial, que ocupava uma posição entre o mestre e o
aprendiz. O aprendiz, que ficava na base dessa hierarquia, devia ter
entre 12 e 15 anos e pertencer
a um só mestre. Segundo a concepção feudal, com
base na Igreja Cristã, o trabalho era uma verdadeira maldição
e deveria existir somente na quantidade necessária à
sobrevivência, não tendo nenhum valor em si mesmo.
O TRABALHO NA SOCIEDADE
CAPITALISTA
Como
o trabalhador se transforma em mercadoria
Trabalho
se transforma em força de trabalho quando se torna uma
mercadoria que pode ser comprada e vendida. E, para que ele se
transforme em mercadoria, é necessário que o
trabalhador seja desvinculado de seus meios de produção,
ficando apenas com a sua força de trabalho pra vender.
O
processo que levou à desvinculação entre o
trabalhador e seus meios de produção foi longo e está
relacionado com todas as transformações que permitiram
a constituição do modo de produção
capitalista. Vários foram os fatores que concorreram para que
houvesse essas transformações. Os mais significativos
foram os cercamentos das terras comunais e a expropriação
dos camponeses, o que permitiu a liberação de terras
para a produção de lã, bem como a expulsão
de milhares de pessoas sem trabalho para cidades, ou seja, pôde-se
dispor de muita matéria-prima e, ao mesmo tempo, de um
exercito de pessoas que possuíam apenas a sua força de
trabalho para vender. O processo resultante da conjugação
de todos esses fatores passou a ser conhecido com acumulação
primitiva do capital. É dessa forma que um grupo de pessoas
conseguiu acumular riquezas e ter dinheiro nas mãos para
aplicar em empreendimentos voltados para fabricação de
mercadorias em outra escala de produção e com a
finalidade de vender exclusivamente.Com isso financiaram e
organizaram a produção de mercadoria
através de duas formas de coordenação do
processo de trabalho dos artesões: ou reunia os artesões
de um determinado oficio em um mesmo local de produção
ou eles podiam trabalhar dispersos por vários locais,
inclusive na sua própria casa. Entretanto, quem definia o que
produzir e quanto produzir era o dono do capital, que financiava
tudo.
A
cooperação simples é o processo no qual os
trabalhadores ainda mantém a hierarquia da produção
artesanal, entre o mestre e o aprendiz. Neste sistema o artesão
ainda desenvolve, ele próprio, todo o processo produtivo. A
diferença é que agora ele está à serviço
de quem lhe financia não só a matéria-prima como
até mesmo alguns instrumentos de trabalho, e ainda define o
local e as horas a serem trabalhadas.
A
manufatura ou a cooperação avançada é a
segunda forma de organizar a força de trabalho antes da forma
especificadamente capitalista. Na manufatura há a dissolução
inicial desses processos
de trabalho baseados nos ofícios. O trabalho artesanal
continua sendo a base, só que reorganizado e decomposto através
da fragmentação de suas tarefas, definindo
assim uma nova divisão de trabalho. Nessa cooperação
no final de uma produção se tem um produto que foi
produzido por vários artesãos, mas por nenhum em
particular. A manufatura é o segundo passo para que surja o
trabalho coletivo.
MUDANÇA
NA CONCEPÇÃO DE TRABALHO
Ate
então o trabalho foi sempre visto como uma verdadeira tortura,
entretanto, as mudanças ocorridas nas relações
sociais fizeram com que o trabalho passasse a ser visto como o
criador de toda a riqueza.
A
Reforma Protestante desenvolveu uma analise que alteraria o
pensamento cristão sobre o trabalho. Na nova visão a
profissão de cada um passa a ser vista como vocação,
e a preguiça, como uma coisa perniciosa e má, que se
contrapõe à ordem natural
do mundo. O trabalho passa a ser encarado como uma virtude,
e ao se trabalhar arduamente, pode-se chegar ao êxito na vida
material, o que é expresso nas bênçãos
divinas sobre os homens. O cristão protestante deve levar uma
vida ascética, e costumes simples, e o que se pode poupar deve
ser reinvestido no trabalho, dessa forma gerando mais oportunidade
para outros trabalharem. Nessa concepção, a riqueza em
si não é condenável, mas sim aquilo a que ela
pode levar: o não-trabalho, o desfrute ostentatório e a
preguiça que ela pode causar.
TRABALHO
E CAPITAL: UMA RELAÇÃO CONFLITUOSA
A
cooperação simples e a manufatura são dois
momentos que precederam e que possibilitaram a emergência de um
novo modo
de produzir: a maquinofatura, ou seja, a produção de
mercadorias
por meio de maquinas reunidas num mesmo local: a fábrica. A
mecanização revoluciona o modo de produzir
mercadorias, não só pelo fato de incorporar as
habilidades dos trabalhadores, mas também porque os subordina
a maquina. A fonte de energia está fora deles. Este, agora,
serve a maquina, ela o domina, dá-lhe o ritmo de trabalho. O
trabalhador ao necessita ter um conhecimento especifico sobre algum
oficio. Ele não precisa ter qualificação
determinada.
Aparentemente,o
que vemos entre o capitalista e o trabalhador é uma relação
entre iguais, uma relação entre proprietário de
mercadorias, que se dá mediante a compra e a venda da força de
trabalho.
O
trabalhador ao assinar um contrato para trabalhar numa determinada
empresa,está dizendo ao seu proprietário que se dispõe
a trabalhar, por exemplo, oito horas diárias, por um
determinado salário. O capitalista passa a ter direito de
utilizar essa força de trabalho no interior da fábrica.
O que acontece é que o trabalhador, em apenas cinco ou seis
horas de trabalho, produz um valor correspondente ao seu salário
total, sendo o valor produzido nas horas restantes apropriado pelo
capitalista. O que se produz nessas horas restantes chama-se
mais-valia, que faz com que o capitalista enriqueça
rapidamente.Esse processo
denomina-se acumulação de capital. Para obter mais
lucros, os capitalistas aumentam as horas de trabalho, gerando a
mais-valia absoluta, ou, passam a utilizar equipamentos e diversas
tecnologias para tornar o trabalho mais produtivo, decorrendo daí
a mais-valia relativa.
Os
conflitos entre os capitalistas e os operários aparecem a
partir do momento em que os trabalhadores percebem que es-tão
trabalhando mais e que estão cada dia mais miseráveis.
Essa forma de analisar a questão do trabalho na sociedade
capitalista foi desenvolvida por Karl Marx.
Existe
outro pensador, Émile Durkheim, que analisa as relações
de trabalho na sociedade capitalista de forma diferente. Para ele, há
dois tipos de solidariedade: a mecânica e a orgânica. A
solidariedade mecânica deriva da aceitação de um
conjunto de crenças e de tradições comuns. O
que une as pessoas não é o fato de uma depender do
trabalho da outra, mas toda uma gama de sentimentos comuns.
A
orgânica, ao contrario, pressupõe não a
identidade, mas, a diferença entre os indivíduos nas
suas crenças e ações.
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